sábado, 20 de agosto de 2016

Luís Gama o rábula-poeta da liberdade...


Luis Gama nasceu em Salvador, filho de um fidalgo português e da africana Luiza Mahin. Aos dez anos, para saldar dívidas de jogo, o pai o vendeu como escravo. Veio para o Rio de Janeiro e dali foi vendido para um fazendeiro paulista que acabou dando ele chances dele estudar, e se tornar um advogado autodidata, se revelando, assim, um dos mais brilhantes de sua geração.
Com a decisão recente da OAB de torná-lo advogado nesses últimos dias, a decisão é atrasada, mas expressa luta da militância pelo reconhecimento de seus grandes ícones.

São Paulo, um dia novembro de 1869.
Um escravo, Jacinto, fugira do cativeiro de Minas Gerais. Busca a alforria na justiça. Bateu na porta da residência de Luiz Gonzaga Pinto da Gama(1830-1882).
Este se anunciava nos jornais como “defensor perante aos tribunais da causa da liberdade”.

                                 Dos escravos.
Que os defendia gratuitamente.
Na época, o escravo Jacinto dissera a Gama que seu cativeiro fora ilegal. Isto porque chegara ao Brasil após a lei de 7 de novembro de 1831.
Esta lei proibia o tráfico de escravos.
O juiz Rego Freitas argumentou que a ação de liberdade deveria ser proposta no município de origem do suposto senhor do africano. Gama em petição referendou os termos anteriores de sua ação de liberdade para Jacinto.
Classificou, então, o despacho do Rego Freitas, de “ofensivo da lei”. Chamou o escrito do juiz de “fútil despacho”. O juiz, resolveu processar o insolente advogado negro autodidata- que não cursara faculdade- e chamado de rábula.
Ou seja, um advogado que não frequentara faculdade, tivera a insolência de, em petição, acusar um conceituado magistrado de não ter domínio da lei.
A ousadia de Gama teve um alto preço: a petição feita ao juiz Rego Freitas pedindo ação de liberdade em nome do africano Jacinto rendeu-lhe desemprego do estado e um processo por crime de calúnia.
No entanto, durante o julgamento do processo contra ele, ele mesmo se defendeu. Assim, mostrou o lado obtuso do magistrado e inabilidade do sistema escravista brasileiro. Ele foi absolvido por unanimidade.

A CATIVA _ Luís Gama
Como era linda, meu Deus!
Não tinha da neve a cor,
Mas no moreno semblante
Brilhavam raios de amor.

Ledo o rosto, o mais formoso
De trigueira coralina,
De Anjo a boca, os lábios breves
Cor de pálida cravina.

Em carmim rubro esgastados
Tinha os dentes cristalinos;
Doce a voz, qual nunca ouviram
Dúlios bardos matutinos.

Seus ingênuos pensamentos
São de amor juras constantes;
Entre as nuvens das pestanas
Tinha dois astros brilhantes.

As madeixas crespas, negras,
Sobre o seio lhe pendiam,
Onde os castos pomos de ouro
Amorosos se escondiam.

Tinha o colo acetinado
— Era o corpo uma pintura —
E no peito palpitante
Um sacrário de ternura.

Límpida alma — flor singela
Pelas brisas embalada,
Ao dormir d'alvas estrelas,
Ao nascer da madrugada.

Quis beijar-lhe as mãos divinas,
Afastou-mas — não consente;
A seus pés de rojo pus-me,
— Tanto pode o amor ardente!

Não te afastes, lhe suplico,
És do meu peito rainha;
Não te afastes, neste peito
Tens um trono, mulatinha!...

Vi-lhe as pálpebras tremerem,
Como treme a flor louçã
Embalando as níveas gotas
Dos orvalhos da manhã.

Qual na rama enlanguescida
Pudibunda sensitiva,
Suspirando ela murmura:
Ai, senhor, eu sou cativa!...

Deu-me as costas, foi-se embora
Qual da tarde ao arrebol
Foge a sombra de uma nuvem
Ao cair a luz do sol.
 Na foto a mãe de Luís Gama : Luiza perdeu cedo o contato com o filho. O menino, então com dez anos de idade, foi vendido ilegalmente pelo próprio pai, como escravo, para quitar uma dívida de jogo. Conhecedor de que sua situação era ilegal –
já que era filho de mãe livre -, acabou fugindo e, embora a tenha procurado por toda a vida, jamais reviu Luiza, também fugitiva das autoridades, graças às atividades revolucionárias.

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