terça-feira, 12 de agosto de 2014

Os Possessos com Elif Batuman e Vladímir Sorókin na FLIP 2014

Os Possessos com Elif Batuman e Vladímir Sorókin na FLIP 2014


A entusiástica fala de Paulo Werneck, ao iniciar a mesa me deixou num grande aforismo, afinal, tenho interesse na literatura russa;

“Alegria de ouvir o idioma russo pela primeira vez nessa tenda.

A mesa teve a mediação da conversa entre Elif Batuman (uma jovem de descendência turca, nascida nos Estados Unidos da América, filha de médicos pesquisadores residentes nos USA), junto a Vladímir Sorókin (alguns livros publicados, tais como: romances, peças teatrais e libreto de ópera, formado em engenharia e, uma das grandes vozes da Rússia no momento) na quinta-feira (31/08/2014) feita por  Bruno Gomide.

Anotei uma fala que me aproximou ainda mais do debate do escritor russo (um tanto tímido, mas de uma fala critica, veemente). Vladimir diz que a literatura como um todo vive no silêncio!
— Um filósofo espanhol disse, certa vez, que a vida é um tiro. Eu diria que a literatura também é, mas um tiro silencioso. Você não escuta nem sente a bala entrando em você, mas, uma vez que acontece, torna-se uma pessoa que começa a descrever o mundo a sua volta. Vladímir Sorókin recebeu com empatia os aplausos dos participantes ao ler trechos de sua peça teatral _Dostoievski-Trip.
“Ele conta a história de um garoto e seu irmão, cujo avô foi vítima de uma bomba, o pai morreu no front e a mãe morreu de tifo. O menino e seu irmão, ficaram sozinhos morando nas ruas. Eles comiam qualquer coisa para sobreviver: trapos, lascas de madeira, sapatos velhos e viam pessoas morrerem de fome e frio pelas ruas. Essas crianças  ao serem “cuidadas” por Peixe (um personagem fora da lei), que, as orienta a recolherem “bundas” de cadáveres (mortos de fome e frio pelo regime), para dar para á sua mulher fabricar hambúrgueres para vender para os esfomeados (com pouco dinheiro). À noite no retorno para o esconderijo, a mulher trazia pão e tabaco para o bando se alimentar. A história se desdobra com a saída do irmão em busca de uma agulha sem retornar. Muito tempo depois, ele sonhou com o irmão mostrando-lhe a agulha, dizendo-lhe:
_”Nesta agulha há 152 bundas!“ Em seguida, o morto pica a mão do irmão, que começa, desde então, a escrever.
Vlademir por ser um crítico ferrenho do totalitarismo russo mostrou sua preocupação no retorno a sua pátria. 
Elif Batuman debate:
“A literatura russa tem uma reputação trágica, principalmente fora da Rússia. O humor é mais difícil de traduzir. Os romances e os nomes dos personagens são longos e trágicos. Acho que a comédia se perde um pouco com os nomes longos demais. Mas é um humor humano, que não é cínico, como o francês, nem leve, como o inglês. É uma forma mais sofisticada de humor, engraçado e triste ao mesmo tempo.”.
“Os possessos”, da escritora se torna uma analogia à uma antiga tradução de “Os demônios”, de Dostoievski, já, Sorókin lança na Festa Literária, “Dostoiévski-Trip”, sobre um grupo de junkies consumidores de drogas que correspondem aos universos de grandes e médios autores.
Vladimir conta sobre sua experiência como leitor e estudioso de Dostoievski , desmitificando a genialidade do escritor:
“— Dostoiévski escrevia muito rápido, porque precisava ganhar dinheiro, e suas obras eram praticamente rascunhos, muitas não eram nem relidas. É um estilo muito pesado, que acaba se perdendo na tradução, já que muitos tradutores melhoram seu estilo. Apesar de ser consagrado mundialmente, muitos, como (Vladimir) Nabokov, o odiavam. De fato é muito trabalhoso ler Dostoiévski. É uma carnificina psicológica e de estilo. Ele faz do leitor carne moída.”.
O russo fala da dificuldade de escrever nos tempos do regime soviético:
“A literatura foi proibida e nós escrevíamos para guardar na gaveta. Escrevíamos para os amigos ou com a esperança de ser publicados nos exterior. No estado totalitário não tem oposição, tem dissidentes. Na Rússia, infelizmente isso está retornando. Os oposicionistas de hoje se tornaram dissidentes. Vivi e sobrevivi ao totalitarismo e não gostaria que esse defunto do passado submergisse. Muitos dos romances em que a literatura foi usada apenas de forma política ficaram datados e não sobreviveram à sua época. Pessoas como Putin (o presidente russo Vladimir Putin) vêm e vão. O romance fica.”.
Vladímir Sorókin foi apaludido entusiasticamente pelo público presente na FLIP.
Encontro pelas ruas de Parati com Vladímir Sorókin...uma surpresa alegre!


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